Cesaltina Pinto (texto) e Lucília Monteiro (fotos) 10:45 Sexta feira, 29 de Abr de 2011 |
Beatriz fala muito baixinho e é com imenso cuidado que pega numa coruja fechada numa caixa na sala de internamento do CERAS - Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco. Enrola-a numa toalha, tapa-lhe os olhos para que se mantenha calma, e leva-a para a sala de exames. Com um mês de idade, a coruja caiu do alto do seu ninho e, como não consegue ainda voar, fica à mercê da voracidade de outros animais. Alguém a encontrou à deriva e foi deixá-la ali, na passada terça-feira, 26. "Pesava 294 gramas. Hoje pesa 333. É bom", diz a responsável clínica do CERAS, centro gerido pela Quercus em colaboração com a Escola Superior Agrária. "Ficará pelo menos mais dois dias", diz Beatriz Azorin, 28 anos, natural de Múrcia, Espanha. Esta veterinária veio aqui parar ao abrigo do programa Leonardo da Vinci - que favorece a mobilidade transnacional para formação profissional - gostou e ficou. E mostra como todo o cuidado é pouco para que os cerca de 200 animais que ali são tratados por ano não se habituem ao ser humano. Caso contrário "deixariam de ser selvagens". Colisão com linhas de eletricidade, envenenamentos com pesticidas e herbicidas ou atropelamentos são as principais causas dos ferimentos ali tratados. Mas também há casos de cativeiro ilegal. "São os mais difíceis, porque estão de boa saúde mas já não podem ser libertados. Habituaram-se demasiado ao homem, perderam as características selvagens, como o hábito de caçar. E não sobrevivem no exterior". A coruja volta à sua caixa de isolamento e a seu lado é colocado um prato de ratos mortos cortados aos bocadinhos - a refeição do dia. Foi ela própria quem os cortou em pedaços, depois de os ter descongelado. "É um pouco nojento, mas quando vejo o animal recuperado sinto que vale a pena", justifica com ar satisfeito. Ratos é uma base importante da alimentação dos animais selvagens - daí que o CERAS tenha de fazer a sua própria criação de ratos. A coruja das torres tem direito a quatro ratos, mas vivos. Foi atropelada, verificando-se depois que tinha problemas oculares. Está presa num espaço exterior limitado por redes, até voltar a voar sem problemas. "Terá de conseguir caçar de novo para sobreviver no seu meio natural", explica Beatriz, que atira os ratos por um canudo para o interior do túnel. O mesmo acontece ao abutre preto. Este foi eletrocutado e ficou com uma luxação que não mais o deixará fazer voos de médio e longo curso. Como é uma espécie ameaçada irá para Madrid para criação em cativeiro. Os que são libertados são marcados com anilhas para posterior monitorização. "Aqui há muito trabalho mas pouco dinheiro", adverte Beatriz, frisando a "taxa de recuperação ligeiramente acima dos 50%". Angariação de fundos são uma constante, assim como o apadrinhamento de animais. De resto, o voluntariado é a palavra de ordem. [Visão] | |
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