HISTÓRIA DO CAVALO ÁRABE NO MUNDO
por Lenita Perroy
A origem do cavalo árabe, depois de muitas pesquisas e de divergências históricas,
continua sem uma prova definitiva: teria sido uma espécie selvagem que assumiu
com o tempo sua forma, originária de cruzamentos entre outras? Teria o homem
interferido nessa formação? A questão permanece envolta em mistério. Na verdade
a primeira imagem aparece num baixo relevo egípcio do século 16 antes de Cristo.
A Cavalo Árabe de hoje tem uma cabeça pequena e côncava , pescoço arqueado,
linha de garupa horizontal e cauda levantada de inserção alta. Estas características
foram mantidas até hoje, através de 36 séculos. Quem poderá realmente dizer
quantos outros se passaram até que estas características tivessem sido adquiridas
e fixadas.
Não existe dúvida de que é a raça mais antiga do mundo, e a nenhuma outra
se pode comparar em conformação, equilíbrio e beleza. Mas não foi por essas
qualidades que durante 3500 anos o cavalo árabe foi tão apreciado: foi por
sua extraordinária capacidade como cavalo de guerra. Pela velocidade, resistência,
agilidade e inteligência.
O poderio dos impérios e de seus exércitos foi cada vez mais baseado na cavalaria.
E pouco a pouco, a cavalaria ligeira ultrapassava em muito a pesada, com armaduras
e armas de maneio lento. Os guerrilheiros montados em "cavalos que voavam
nos pés" tornavam-se famosos e muito temidos.
Em 700 a.C. havia uma procura generalizada deste tipo de cavalo. Guerras
eram iniciadas com o único fim de obtê-los em maior número possível. As lutas
se sucediam entre assírios, persas, povos das estepes, em torno do mar Vermelho,
até o Egito. Em selos, jóias, relevos e pinturas, encontramos a mesma imagem
do cavalo árabe característico através dos séculos.
A lenda conta que Maomé, depois de uma longa caminhada, mandou que soltassem
os animais para tomar água. Antes que eles chegassem ao lago, ele os chamou
de volta, e apenas cinco éguas pararam, e em vez de matar a sede voltaram
atendendo ao chamado do profeta. Ele abençoou estas cinco éguas, e delas se
formaram as cinco linhagens famosas.
Porém, todas as referências citam apenas Kehilan Ajuz,que se confunde com
o termo "puro". Portanto, todas as linhagens formaram-se a partir de Kehilan
Ajuz. Somente em 1800 temos como definitivo a existência das várias linhagens:
Kehilan, Seglawi, Maneghi, Abeyan, Dahman. Porém para os beduínos "são todos
Kehilan".
Apesar de haver descrições, com características diversas, destas linhagens,
notamos com surpresa que elas são continuamente cruzadas entre si, tornando
difícil seu reconhecimento. Mais tarde, as tribos de beduínos criaram sublinhagens,
isolando pela distância suas tropas.
Grandes studs
A paixão pelo cavalo levou faraós, reis, imperadores e uma série de homens
poderosos a colecionar o que havia de melhor. Preços fabulosos, resgates de
príncipes, e mesmo cidades inteiras foram trocados por esplendidos animais,
quando não eram arrancados a preço de sangue.
Depois do esplendor dos faraós, temos notícia dos grandes studs nos séculos
13 e 14, como Baybards, o sultão que mandava colocar sedas preciosas no chão
para que seus cavalos desfilassem. O sultão Nacer Ibn Kalaoun (1300 d.C.)
pagava fortunas pelos animais, trazidos de todos os cantos do seu reino como
sendo os mais perfeitos: uma potranca, filha da égua El Karta, foi paga com
cem mil dracmas em ouro, mais uma parte em terras na Síria (Este valor em
dracmas daria hoje mais de 5,6 milhões de dólares). Quando o sultão Barkuq
faleceu (século14) haviam sete mil éguas em suas cocheiras. Depois o Egito
foi subjugado por invasores e os grandes studs voltam a aparecer com Mohammed
Ali, em 1805. Até então, as tribos nômades, permanentemente em guerra, mantêm
suas éguas como parte da família, alimentando-as com tâmaras e leite de camelo,
e dormindo em sua tenda. Por esta razão os animais dóceis foram preservados.
O beduíno tem o cavalo como parte de sua vida e sobrevivência. E assim o cavalo
árabe vai sendo preservado através das idades, passada a tradição de pais
a filhos, como o fogo conservado com tanto sacrifício entre os homens primitivos.
Em 1815 Mohammed Ali, um dos chefes turcos que então dominavam o Egito, mandou
um exército chefiado por Ibrahim Pasha, seu filho , contra o poder crescente
dos wahabis, em Nejd. Depois de bem-sucedida essa invasão, Ibrahim Pasha voltou
para o Egito trazendo consigo duzentas esplêndidas éguas e os garanhões capturados
em Ryad e outras cidades do Nejd. Estes magníficos animais representavam o
sangue mais puro das tribos do deserto e foram aumentar a glória dos estábulos
reais de Mohammed Ali. Uma segunda expedição, mais organizada, também comandada
por Ibrahim Pasha, penetrou novamente na Arábia capturando Touryf, e com isto,
o stud inteiro de Saoud, o rei wahabi. Estes animais deram a Ibrahim Pasha
a possibilidade de estabelecer seu próprio stud. Assim o Egito possuía novamente
dois grandes criatórios, com o material melhor e mais refinado da Arábia.
Os viajantes no Egito que tiveram o privilégio de visitar os studs de Mohammed
Ali e Ibrahim Pasha eram unânimes em constatar a beleza espetacular dos animais
ali reunidos. Porém, as condições em que estes animais eram mantidos deixavam
os visitantes indignados. Estábulos pouco ventilados e sujos, com poucos homens
para cuidar; na maioria garotos, que além de não os soltarem nem cuidarem
da limpeza, ainda roubavam a comida destinada aos animais. Muitos morreram
e pouco a pouco a qualidade foi decaindo. Alguns foram enviados como presentes
a príncipes estrangeiros, mas o destino cuidou para que tudo não fosse perdido.
Abbas Pasha
O neto de Mohammed Ali, quando criança, tinha assistido à procissão triunfal
do exército de Ibrahim Pasha entrando no Cairo com a fina flor das éguas do
deserto, e em seu peito nasceu uma paixão que durou toda sua vida por estes
maravilhosos animais. Desde então, tentou reunir, e conseguiu, um grande número
de éguas e cavalos de várias proveniências, animais estes que despertavam
aquela grande admiração que ele sentira em criança. Durante o declínio dos
studs de seu tio e seu avô, comprou tudo o que foi possível. Em 1836, com
23 anos, Abbas Pasha tornou-se vice-rei do Egito. Abbas Pasha mandou construir
um magnífico palácio no deserto Dar al Bayda, entre Cairo e Suez, com todo
o cuidado para o bem estar de seus cavalos. Dizem os que o visitaram que em
seus melhores tempos o stud compreendia mil animais, das mais nobres e refinadas
origens. Abbas Pasha morava neste palácio, e assim podia passar o dia entre
os jardins, alegrando seus olhos perante a visão de seus esplêndidos animais.
A importância do stud de Abbas Pasha é a maior, na história do cavalo árabe.
A pureza racial, o refinamento, a beleza e a perfeição dos espécimes por ele
reunidos é reconhecida por todos. Sua exigência quanto ao pedigree, que naquela
época não costumava ser escrito, obrigou um studo de genealogias para garantir
a pureza racial da qual ele fazia questão absoluta. Foi feito o primeiro Stud
Book: Abbas Pasha.Tudo parecia indicar que o futuro seria brilhante.
Mais uma vez o destino mudou o rumo e em 1854 Abbas Pasha foi assassinado.
Este vice-rei de Egito foi um dos maiores conhecedores da raça árabe. A dedicação
de sua vida inteira e o cuidado com que seus animais foram escolhidos; seus
manuscritos, tornando possível o conhecimento de todas as linhas de sangue
- que eram transmitidas oralmente entre os membros das tribos - , tudo foi
anotado por um escriba de confiança, acompanhado por alto dignitário de sua
majestade. Portanto, pode-se considerar, sem dúvida alguma, que os únicos
cavalos de pureza inquestionável foram os de Abbas Pasha. Enquanto os relatos
de visitantes em outros studs historicamente famosos descrevem a velocidade
e as vitórias em corrida, os que puderam ver os cavalos de Abbas Pasha descrevem
apenas a extraordinária beleza e majestade destes animais. El Hami Pasha herdou
o reino de seu pai e o stud, mas não tendo o talento necessário, não pôde
manter este estabelecimento e morreu três anos depois. Para pagar suas dívidas,
o tesouro inestimável da coleção fantástica de seu pai foi a leilão. Reis
e príncipes europeus enviaram representantes, ou vieram pessoalmente, assim
como vários nobres, ansiosos para enriquecer seus estabelecimentos com os
melhores espécimes do mundo. Preços incríveis foram atingidos, e mais ou menos
duzentos animais foram para vários países: Itália, Alemanha, França, Polônia,
Hungria. O grande interesse em torno das corridas tornava necessário o cruzamento
repetido com sangue árabe do deserto, e cada país seguia uma orientação diferente.
Porém, a influência destes animais, utilizados desta maneira, foi se diluindo
e nada foi conservado em termos puros. Felizmente, um jovem de família nobre
do Cairo, admirador e profundo conhecedor do stud de Abbas Pasha, arrematou
as mais valiosas linhas de sangue no leilão. Ali Pasha Cheriff, um dos mais
ricos proprietários de terras do Egito, entusiasmado com os melhores garanhões
e as mais belas éguas que comprara, estabeleceu sua própria criação, agora
governador da Síria. Durante os anos subseqüentes, Ali Pasha Cheriff devotou
sua fortuna pessoal e todo o seu conhecimento ao estabelecimento. Seu maior
prazer era manter as suas éguas tratadas como princesas orientais em harém:
elas desfilavam, maravilhosas, banhadas, penteadas e enfeitadas com cabrestos
preciosos, somente para seus olhos. Porém, quando o Pasha envelheceu , seus
filhos conspiraram contra ele e achando que sua fortuna fabulosa estava sendo
desperdiçada, decidiram vender o stud. Ali Pasha Cheriff, algumas semanas
depois, com o coração despedaçado ao ver seus animais irem a leilão, não resistiu
e morreu, terminando assim, para sempre, a magnificência dos grandes studs
do Oriente Médio.
O CAVALO DO BEDUÍNO
Muitas das atuais características do cavalo árabe resultam de sua adaptação
ao deserto. São, com certeza, aspectos de sua conformação primitiva que foram
privilegiados, selecionados e desenvolvidos com grande sabedoria pelos beduínos.
Isso foi realizado com tal maestria através de conceitos e ensinamentos passados
de geração para geração durante milênios, que nenhum hipólogo ou compêndio
sobre eqüinos se recusa ou mesmo titubeia em afirmar que o Puro Sangue Árabe
é o mais perfeito animal e o verdadeiro protótipo do cavalo de sela.
Os olhos
Os olhos do cavalo árabe são típicos de muitas espécimes de animais do deserto.
Grandes e salientes, eles são responsáveis por prover o animal de uma excelente
visão, a qual alertava os primitivos cavalos Árabes dos ataques de seus predadores.
Narinas
As narinas do cavalo Árabe que se dilatam quando ele corre ou está excitado,
proporcionam uma grande captação de ar. Normalmente as narinas se encontram
semi-cerradas reduzindo a poeira proveniente da respiração nos climas mais
secos como no deserto.
Maxilares
O tamanho e a grande separação entre os maxilares ou ganachas no cavalo
Árabe proporcionam um bom espaço para a passagem de sua desenvolvida traquéia
- provavelmente esse é um outro fator de adaptação para aumentar a captação
de ar.
Carregamento de cabeça
O carregamento natural de cabeça do cavalo Árabe é muito mais alto do que
qualquer outra raça, especialmente ao galope. O alto carregamento da cabeça
facilita a passagem do ar, abrindo as flexíveis narinas e alongando a traquéia.
É comprovado que os cavalos Árabes possuem maior número de células vermelhas
que as outras raças, o que pode indicar que o cavalo Árabe usa o oxigênio
mais eficientemente.
Pele
A pele negra por debaixo dos pêlos do cavalo Árabe é visível devido à delicadeza
ou ausência de pêlos em torno dos olhos e focinho. Essa pele escura em torno
dos olhos reduz o reflexo da luz do sol e também protege contra queimaduras.
A fina pele do cavalo Árabe proporciona a rápida evaporação do suor resfriando
o cavalo mais rapidamente.
Irrigação Sanguínea
As veias que se tornam visíveis por saltarem à flor da pele quando o cavalo
Árabe enfrenta um grande esforço físico, em contato com o ar, resfriam rapidamente
a circulação sanguínea, proporcionando maior conforto em longas jornadas.
Crina
Os pêlos da crina são normalmente finos e longos, protegendo a cabeça e
o pescoço da ação direta do sol. O longo topete na testa também protege os
olhos do reflexo e da poeira.
Focinho
O pequeno e cônico focinho também deve ser creditado de sua herança do deserto.
A escassez de alimentos deve ter reduzido o focinho para o admirado tamanho
e formato de hoje. Os finos e ágeis lábios provavelmente são resultados dos
ralos pastos do deserto. Os cavalos dos beduínos pastoreavam apenas esporadicamente
comendo poucos chumaços de grama aqui e ali, enquanto seguiam em suas longas
jornadas. Lábios ágeis podem rapidamente se prover de pequenas porções de
ralas gramas e ervas.
Estrutura Óssea
É fato que muitos cavalo Árabes possuem apenas cinco vértebras lombares,
diferentes das seis comuns em outras raças. Essa vértebra a menos explica
o pequeno lombo e a resultante habilidade em carregar grandes pesos proporcionalmente
ao seu tamanho. No entanto, modernas autoridades do cavalo Árabe, como Gladys
Brown Edwards, afirmam que não são todos que possuem cinco vértebras, muitos
possuem o padrão de seis vértebras. Até hoje não é sabido qual número mais
comum de vértebras no cavalo Árabe e não há evidência de que o Árabe que possui
cinco seja mais puro ou mais desejável do que o que possui seis.
Carregamento da Cauda
O alto e natural carregamento da cauda é resultado da singular estrutura
óssea do cavalo Árabe. A primeira vértebra da cauda, que se liga à parte interna
da garupa é levemente inclinada para cima, ao contrário de outras raças que
se inclina para baixo.
A cabeça
A distinta beleza do cavalo Árabe é uma das principais marcas do tipo da
raça. O clássico perfil é marcado por duas características: jibbah e afnas,
muito admiradas pelos beduínos.
Jibbah
É a protuberância acima dos olhos. Nem todos os cavalo Árabes maduros
possuem, mas ele é óbvio nos potros. O Jibbah aumenta o tamanho da cavidade
nasal proporcionando maior capacidade respiratória.
Afnas
O afnas é a chamada "cabeça chanfrada". O chanfro é a depressão no osso frontal
da cabeça entre os olhos e o focinho, ele apresenta uma curva côncava no perfil
da cabeça. Embora o Afnas fosse admirado pelos beduínos como um aspecto de
beleza, nem todos os seus cavalos possuíam o chanfro pronunciado, da mesma
forma que hoje nem todos os modernos cavalos Árabes possuem esse perfil.
Mas uma cabeça é considerada boa e típica quando possui:
- olhos grandes, salientes, bem separados e situados logo abaixo da testa
- testa larga
- narinas grandes e flexíveis
- cabeça descarnada e seca
- a expressão geral é alerta, inteligente e vivaz
Os chamados "olhos humanos" ou "branco nos olhos" no qual é visível
a esclerótica branca em torno da íris é um ponto polêmico
na criação do cavalo Árabe. Margaret Greeley em seu livro
"Arabian Exudus" cita Wilfrid Blunt afirmado que o branco nos olhos não
era um sinal de mau temperamento, pelo contrário, era uma característica
desejada pelos beduínos. Muitos juízes e criadores modernos,
no entando, desgostam e penalizam os cavalos que possuem essa característica
a despeito do fato dela aparecer em certas antigas e valiosas linhagens.
1 |
Orelha |
26 |
Boleto |
2 |
Topete |
27 |
Quartela |
3 |
Têmpora |
28 |
Coroa |
4 |
Olho |
29 |
Casco |
5 |
Chanfro |
30 |
Cernelha |
6 |
Narina |
31 |
Dorso |
7 |
Focinho |
32 |
Lombo ou rins |
8 |
Lábios |
33 |
Anca |
9 |
Queixo |
34 |
Vértebras da cauda |
10 |
Lábio inferior |
35 |
Garupa |
11 |
Madíbula |
36 |
Costelas |
12 |
Ganacha |
37 |
Flanco |
13 |
Testa |
38 |
Cilhadouro |
14 |
Nuca |
39 |
Barriga |
15 |
Crina |
40 |
Coxa |
16 |
Pescoço |
41 |
Nádega |
17 |
Garganta |
42 |
Ponto de nádega |
18 |
Laringe |
43 |
Soldra |
19 |
Ponto de paleta |
44 |
Perna |
20 |
Peito |
45 |
Jarrete |
21 |
Paleta |
46 |
Tendão extensor |
22 |
Braço |
47 |
Tendão |
23 |
Antebraço |
48 |
Castanha |
24 |
Joelho |
49 |
Cotovelo |
25 |
Canela |
50 |
Cauda |
Para que serve o Cavalo Árabe
3000 Anos de Seleção
As modernas raças de cavalos que conhecemos são frutos de seleção
recente, cada qual tentando se especializar em uma das áreas do esporte,
trabalho ou lazer.
O Puro Sangue Árabe é o único cavalo que reúne
em suas características a possibilidade de realizar bem todas essas
funções.
Por que ?
A vida das tribos dos beduínos, há milhares de anos no interior
do deserto da Arábia, é a chave para entender essa qualidade
do Cavalo Árabe.
Rusticidade e Resistência
Povos nômadas e guerreiros, os beduínos procuravam por um animal
que os ajudasse em sua luta contra a inclemência do deserto e lhes conferisse
poder nas batalhas.
Foram necessários mais de 3 milênios de seleção
para se chegar ao cavalo de guerra do deserto: Cavalo Árabe, capaz
de resistir a prolongados períodos de trabalho intenso com o mínimo
de cuidado e alimentação. Essas qualidades persistem em seu
fenótipo e são reconhecidas até hoje, através
de competições de longo percurso nos EUA e na Europa. No Brasil,
onde essas provas começam a ser realizadas, o Puro Sangue Árabe
se destaca sempre nas primeiras colocações. No trabalho da fazenda,
os criadores se surpreendem com a produtividade diária do Árabe,
capaz de pronta recuperação após um dia inteiro de atividade.
Versatilidade e Coragem
No lombo de um Cavalo Árabe o beduíno era capaz de qualquer
proeza. Foi por esta razão que os muçulmanos invadiram Portugal
e Espanha no século VIII e as cavalarias das Cruzadas foram dominadas
em Jerusalém na Idade Média.
O cavalo já não tem a mesma importância nas batalhas,
mas do tórrido deserto, o beduíno legou às gerações
futuras um cavalo ágil, veloz, que não conhece barreiras nem
perigos.
Em nossos dias, o Cavalo Árabe entusiasma multidões nas corridas
dos hipódromos do Egito, Polônia, EUA e Rússia. Encanta
o público americano nas difíceis provas de montaria. Auxilia
o peão australiano na lida do gado, emociona os brasileiros nas provas
de Concurso Completo de Equitação, Hipismo Rural, Clássico,
Horse Cross, Copa Rédeas, Laço,Turfe, Vaquejada e tantas outras.
O Cavalo Árabe se adapta com facilidade em qualquer terreno, qualquer
clima e qualquer tipo de trabalho.
Inteligência e Docilidade
O beduíno mantinha o cavalo em sua tenda como se fosse um membro da
família.
Para isso era necessário que o animal tivesse inteligência
para respeitar seu senhor e espírito para enfrentar qualquer exigência.
Essa é uma das virtudes mais admiradas no Cavalo Árabe, a capacidade
de aprender e respeitar sem ser subserviente. A inteligência e dedicação
ao homem, sempre foi uma característica que os Árabes procuraram
selecionar em seus cavalos. Hoje, tanto como montaria para crianças,
instrumento de trabalho em fazenda ou pela habilidade numa pista de prova
qualquer, o Cavalo Árabe se mostra imbatível no sentido de aprender
com facilidade e obedecer seu dono.
Beleza e Elegância
A beleza em um cavalo não é apenas um requisito estético,
ela deve obrigatoriamente estar associada à função do
animal. A harmonia e proporção que fazem o Cavalo Árabe
tão admirado, são requisitos fundamentais na conformação
de um cavalo com capacidade para atender as mais diversas funções.
Além disso, o "tipo Árabe" alcançou seu apogeu biológico
há dois mil anos e a partir de então, o que os nossos criadores
fazem é preservar a pureza e a força desse sangue, fonte de
qualidades generosamente doadas a praticamente todas as raças modernas
que conhecemos hoje.
Prepotência Genética
Os três mil anos de seleção e aprimoramento do Cavalo
Árabe proporcionaram-lhe um poder genético incomparável.
A partir da Idade Média, garanhões Árabes foram exportados
para quase todas as partes do mundo, dando origem a outras raças e
regenerando plantéis inteiros de cavalos.
Assim nasceram o Puro Sangue Inglês, o Orloff, o cavalo de Sela Francês,
o Alter, o Trackener, Hanoveriano, o Quarto de Milha, só para citar
os mais conhecidos. Até hoje o sangue Árabe ainda é utilizado
para melhorar raças, transferindo refinamento, resistência, inteligência
e tantas outras qualidades.
Uma das funções mais importantes do reprodutor Árabe
no Brasil é a regeneração de cavalos de trabalho e esportes
através da mestiçagem. Criações do Interior de
São Paulo, Minas, Goiás e Mato Grosso do Sul, têm conseguido
verdadeiros milagres ao colocarem o sangue Árabe em suas eguadas.
LENDAS DO CAVALO ÁRABE
Percorria ALAH o mundo logo após a criação quando ao
passar sobre o deserto ouviu os gritos e o choro do beduíno.
Ao perguntar-lhe por que assim chorava, respondeu-lhe o árabe:
Vide as riquezas que todos os outros povos ganharam e para mim só
tocou areias.
Percebendo ALAH que não havia sido equânime na distribuição
das benesses da terra, disse-lhe:
- Pois não chores mais, vou compensar-te dando um presente que não
dei a povo algum .
E tomando com a mão direita o vento sul que passava, falou:
- Plasma-te, ó vento sul !Vou fazer de ti uma nova criatura.
Serás o meu presente, e o símbolo de meu amor a meu povo.
Para que sejas único e que nunca te confundam com bestas, terás:
O olhar da águia , a coragem do leão e a velocidade da pantera.
Do elefante dou-te a memória, do tigre a força,da gazela a elegância.
Teus cascos terão a dureza do sílex e teu pêlo a maciez
da plumagem da pomba.
Irás saltar mais do que o gamo, e terás do lobo o faro.Serão
teus à noite os olhos do leopardo, e te orientarás como o falcão
, que sempre volta á sua origem.
Serás incansável como o camelo , e terás do cão
o amor ao seu dono.
E finalmente,Hissam (o cavalo ),como um presente meu ao te fazer cavalo
e fazer-te Árabe,dou-te para todo o sempre e para que sejas único
:
A beleza da Rainha e a majestade do Rei.
ALAH disse ao Vento Sul: "Transforma-te em carne sólida, pois de ti
farei uma nova criatura, para a honra do Meu Sagrado Senhor e a desonra dos
Meus inimigos, e para ser um criado daqueles que estão sujeitos a Mim".
E o vento Sul respondeu: "Senhor, assim se faça por Vós". Então
Alá tomou um punhado do Vento Sul e o assoprou, criando o cavalo e
dizendo: "Teu nome será Árabe, e a virtude estará no
pêlo de teu topete e a pilhagem estará em teu dorso. Tenho preferido
a ti entre as bestas de carga, pois fiz de teu patrão teu amigo. Dei-te
o poder de voar sem as asas, Lenda seja numa investida violenta como numa
retirada. Colocarei homens em teu dorso, cuja honra e louvor sejam a Mim dirigidos
e que cantem Aleluia em Meu nome".