terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Grupo de suricates tenta se aquecer sob o frio do zoológico de Worms, no sudoeste da Alemanha, onde as temperaturas chegaram a -10ºC. Foto: Torsten Silz /AFP Grupo de suricates tenta se aquecer sob o frio do zoológico de Worms, no sudoeste da Alemanha, onde as temperaturas chegaram a -10ºC
Foto: Torsten Silz /AFP

As nevascas no hemisfério norte têm deixado zoológicos em estado de alerta. Leões e tigres do zoo de Chester, na Grã-Bretanha, mais acostumados com o calor da África e da Índia, ganharam cobertores e foram levados para áreas protegidas. Os 90 flamingos do local também foram realocados após o congelamento do canal onde permanecem. A webcam colocada no recanto das girafas (http://www.chesterzoo.org/must-sees/web-cams/giraffe-cam) mostra, muitas vezes, apenas um espaço vazio. Todas elas estão em ambientes internos.

As medidas não foram em vão. Segundo a veterinária e psicóloga Ceres Berger Faraco, a termorregulação - variações metabólicas internas que objetivam manter a temperatura corporal dentro dos limites aceitáveis para a sobrevivência de cada indivíduo - às vezes não é suficiente para manter certas espécies vivas.
"Quando há diferenças extremas de temperatura entre o ambiente natural e o do cativeiro, os ajustes orgânicos necessários poderão ser incompatíveis com a possibilidade fisiológica de adaptação daquele animal. Assim, as condições de adequação representam sempre um custo energético significativo e suas consequências poderão ser brandas ou severamente desfavoráveis para os animais", explica.
A especialista também diz que o problema de adaptação nos ambientes de muito calor trazem prejuízos igualmente graves. "Um lagarto, por exemplo, tem um limite para suportar o calor. Quando a temperatura se eleva, ele buscará abrigo e sombra. No caso de um ambiente com calor excessivo ele entrará em torpor e morrerá. Não foi preparado na sua história evolutiva para deter recursos orgânicos para enfrentar o desafio climático ambiental", diz.

Na opinião de Faraco, o bem-estar do animal fica comprometido como um todo. "Isso é expresso pela redução do nível de atividade desenvolvido ao longo dos dias e consequente alteração patológica dos comportamentos alimentares e reprodutivos. Além destas alterações, o estresse climático repercute sobre a resposta imune propiciando o aparecimento de doenças. São situações muitas vezes insustentáveis e que devem ser evitadas a qualquer custo", diz.

Para a especialista, os zoos devem considerar as características como a capacidade de adaptação, necessidades ambientais da espécie e do indivíduo e o seu padrão comportamental para desenvolver um plano de conservação.
"A partir dessas avaliações, são planejados os tipos de instalação, o manejo mais adequado, necessidades nutricionais - o ganho calórico e nutrientes complementares são essenciais para os ajustes fisiológicos adaptativos - e a manutenção de um microclima para os animais que não sobreviveriam de outra forma. Entre as saídas para o problema estão sistemas de aquecimento para cobras e macacos, proteção de chuva e frio para aves, além de água para banho e gelo nas instalações para ursos em ambientes quentes", explica.
Foi o que fez o zoológico de Patna, na Índia, que instalou mais de 20 aquecedores, preparou ambientes cobertos e desenvolveu dietas especiais para as espécies em exposição. Diariamente, por volta das 16h, leopardos, tigres e ursos têm seus recantos cobertos por feno, que dá uma proteção extra aos problemas causados pelo clima.

O diretor do zoológico, Abhay Kumar, explica que medidas especiais também foram tomadas em relação às aves, já que esta é a fase de reprodução de muitas espécies. "Alguns exemplares já começaram a botar ovos, como é o caso do emu, uma ave australiana. Outras aves logo irão fazer o mesmo, então cobrimos as gaiolas com lençóis de plástico". Já o ambiente das cobras ganhou reforço com a instalação de lâmpadas de 200 watts.

Estações bem definidas podem ser positivas
Mas quando se trata do clima, nem todas as notícias foram ruins para os animais. Um dossiê revelado esta semana pelo National Trust, maior entidade de conservação do Reino Unido, mostra que as quatro estações do ano, bem definidas pelas mudanças de temperatura, foram positivas para a vida selvagem no país.
Segundo o documento, o frio extremo do inverno possibilitou que algumas espécies, como morcegos e ouriços, hibernassem de forma correta, não desperdiçando energia nos meses gelados. A primavera amena e o verão quente criaram condições ideais para os insetos, que ganharam safras abundantes de grãos e frutos. O dossiê também concluiu que espécies ameaçadas de extinção no país, como as borboletas Mellicta athalia e a mariposa Eustroma reticulatum foram capazes de recuperar boa parte da sua fauna graças às mudanças acentuadas de temperatura ao longo de 2010.

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